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Após a recente notícia da Samsung ser condenada a pagar 1
bilião de dólares à Apple por infringir patentes do Iphone no seu smartphone
Galaxy, fiquei impressionado com o valor que se atribui a um bem “virtual”, as
patentes.
Eu sempre fui ligado às ciências e sei que fazer ciência é
estudar o que já existe e ir um bocadinho mais longe, o que seria da ciência se
não se pudesse aproveitar os trabalhos precedentes? Na inovação acontece o
mesmo, não se inventa nada a partir da pedra, muitas invenções precedem as de
hoje.
O caso das patentes a mim intriga-me, porque apesar de
compreender os méritos de ser valorizada a propriedade intelectual de uma
inovação, esse mecanismo tem grandes desvantagens para quem queira e possa ir
mais longe. No caso de produtos de consumo, perde também o consumidor que não
pode ter um produto semelhante mas mais barato.
Tem que haver regulação da propriedade intelectual para
proteger a contrafacção e as marcas, mas impedir uma marca produzir um produto
com algumas semelhanças com outro que já exista não faz nenhum sentido e
levando ao extremo não se podia fazer nada.
Economicamente há ainda outra questão, uma coisa é inventar
um produto, outra é produzi-lo de forma eficiente. Alguém inventa uma coisa,
mas não a consegue produzir e vender de forma eficiente deveria poder impedir
outros de o fazer? Quando se houve falar de empresas falidas cujo bem mais
valioso é o reportório de patentes, é isso que acontece.
Dando como
exemplo o automóvel, numa pesquisa rápida pela wikipédia verifiquei que: “Although
Ford did not invent the automobile, he developed and manufactured the first
automobile that many middle class Americans could afford to buy.”. Na
minha opinião, a capacidade de produzir eficientemente um produto tem tanto ou
mais valor do que uma invenção abstracta, imagine-se que alguém tinha submetido
uma patente do automóvel, sem capacidade de o produzir e isso tinha bloqueado
esta inovação.
No caso dos smartphones em questão, o galaxy é parecido com
o Iphone em forma, mas tem um sistema operativo completamente diferente, mais 2
ou 3 botões, e é cerca de 30% mais barato! Há semelhanças entre os 2
smartphones como há semelhanças entre muita coisa e entre muitos produtos da
mesma área tecnológica, mas há diferenças suficientes para que não seja uma
cópia integral nem há indícios de contrafacção nem de a Samsung alguma vez ter
tido a intenção de fazer alguém crer que ao comprar um dos seus smartphones
estaria a comprar um Iphone.
Apesar da vitória da Apple nos EUA, o mesmo não sucedeu em
diversas outras frentes, incluindo na terra natal da Samsung, a Coreia do Sul,
e em vários territórios neutros. Estarão os EUA a cair na tentação do
proteccionismo?
Será que a capacidade de produzir um produto igual (se fosse
igual, hipoteticamente), mas de forma mais eficiente, e muito mais barato para
o consumidor, deveria ser premiada ou punida?
É preocupante a importância que as patentes têm no mundo da
tecnologia, onde as principais empresas têm que gastar uma boa parte dos seus
recursos, sem que isso sirva o interesse geral das empresas nem das pessoas,
excluindo os batalhões de advogados.
As patentes surgiram da ideia de tornar pública uma
descoberta ou invenção e a forma detalhada como funciona, com a contrapartida
de ficar com o monopólio por vários anos (tipicamente 20 anos). Faz sentido em
algumas áreas, como por exemplo a indústria farmacêutica, onde por um lado é
necessário fazer gastos enormes com pesquisa laboratorial de alto risco (a
maior parte do esforço não dá em nada), e quando se consegue descobrir alguma
coisa que isso sirva para pagar anos de investimento, muito mais que o custo de
produção de um medicamento.
Na minha opinião, a área tecnológica estaria bem melhor sem
patentes.
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