A passar para o lado dos cépticos

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Muita gente falou das últimas medidas do governo e do discurso do PM. São os de dentro dos partidos da coligação que mais veemente têm criticado (os de fora criticam sempre, e sem dar alternativas credíveis, por isso já ninguem liga).

Apesar de não ser habitualmente dos meus comentadores de eleição, Pacheco Pereira desta vez foi o que disse mais e melhor.


Eu próprio abri os olhos para algumas coisas e eu que até agora apoiei o governo passei para os lados dos moderadamente cépticos. O povo suportou todos os sacrificios que lhe foram pedidos, mas o que não suporta é a injustiça.
A paz social é exemplo único em Portugal, até agora só se tinham manifestado minorias ruidosas que não falam por ninguem senão por eles mesmos e que não eram muitos. No entanto, agora manifestou-se a maioria silenciosa, aqueles que até agora tinham aceite com serenidade as dificuldades que atravessavam e que agora deixaram de acreditar que não se esteja a caminhar para uma espiral de recessão e austeridade. Apesar de tudo a manifestação foi pacifica o que fala bem a favor do nível civilizacional do povo Português, resistindo aos apelos dos mesmos de sempre para que se parta para a violência e insubordinação.

Sócrates falhou porque disse que tudo estava bem quando tudo estava mal, e por dizer que estes sacrificios chegavam e de cada vez nos mandar mais um PEC com promessa que era suficiente, até vir o próximo PEC.
Pela primeira vez me parece que Passos está a ir pelo mesmo caminho e o povo que até agora acreditou e aceitou os sacrificios percebe mais uma vez que a recompensa pela sua atitude exemplar, são mais sacrificios. O povo quer ajudar a pôr as contas do país em ordem, mas quer quem saiba fazer as contas e dizer o que é suficiente, quer um lider que não se lamente de fazer o seu trabalho bem feito.

Eu sempre defendi que devia haver um ajuste duro, e que inevitavelmente passava por austeridade, mas um ajuste rápido dado em dose forte mas única. Agora se por a austeridade criar recessão isso faz com que se aumente a austeridade, e que por sua vez aumenta a recessão, percebe-se bem onde isto vai dar.

Quanto a medida da alteração à TSU foi anunciada percebi que a maior diferença era a alteração dos custos da empresa para o trabalhador mas que o total se mantinha semelhante e o total era a mim o que mais interessava, porque o resto ajustar-se-ia naturalmente; empresas com mais liquidez iriam investir mais dando à economia o que a diminuição dos salários iria tirar ou iriam simplesmente aumentar os seus trabalhadores mantendo a relação anterior a essa lei. O aumento do total foi de 1,25% o que parecia pouco mas que vim a perceber que não é, como as empresas têm mais excepçoes ao pagamento de TSU do que os trabalhadores, o total que o estado vai facturar sobe, segundo alguns comentadores em cerca de 15%. Isso sim já considero um esmagamento adicional à economia e já não posso apoiar esta medida.

Quando ao futuro do governo, está agora sériamente comprometido. Vozes relevantes dos partidos da coligação já não apoiam o governo e os próprios ministros já estão desconfortáveis, nomeadamente o lider do CDS que quebrou a lealdade ao governo a favor da lealdade ao seu partido, ao qual devia uma explicação.
Teria muita pena se o governo não aguentasse porque continuo a achar que é o melhor governo que Portugal teve desde que me lembro, e uma equipa escolhida com base em competências. Infelizmente o que mais está a falhar é o próprio PM.
Eleições antecipadas seriam uma calamidade para o país e uma perda de confiança internacional na governabilidade do país. Ninguem quer isso, nem o próprio PS. Substituir o PM mantendo a equipa escolhida pelo anterior PM dá o mesmo resultado que deu o governo de Santana Lopes.
Não sei qual é a solução. O presidente convocou o conselho de estado e isso mostra que está ciente e percebeu antes de toda a gente a dificuldade de sair desta situação. Com muita pena minha o conselho de estado não é tornado público, mas ainda assim penso que só daí poderá sair alguma novidade relevante para sair do impasse.

2 comentários:

  1. J. Saro disse...

    "(...)Teria muita pena se o governo não aguentasse porque continuo a achar que é o melhor governo que Portugal teve desde que me lembro, e uma equipa escolhida com base em competências. Infelizmente o que mais está a falhar é o próprio PM.(...)"

    Eu não consigo fazer uma comparação deste com outros governos, até porque não consigo discernir qual o melhor caminho para o país, neste momento. No entanto, há um grave problema que ultrapassa a questão da competência, este governo tem decisões tomadas por ministros não políticos.

    Ou, pelo menos, não há uma coerência governativa, a única coerência é determinada por Vítor Gaspar e PPC é apenas um porta-voz da estratégia do ministro das Finanças e de Relvas (embora agora mais apagado). Sócrates podia ser o maior sacana, mas tinha essa virtude, mesmo quando prejudicava o país, ele era o último a decidir. Ele decidia politicamente.

    De resto, um governo que não explica o seu plano aos portugueses não pode esperar que ao 3º pacote de austeridade (depois de 4 PECs do anterior governo) tudo passe serenamente. Um governo que insiste em ignorar o desgaste de Relvas não pode pensar que pode pedir tudo.

    O mais grave mesmo é a falta de soluções. Qualquer solução é frágil, a actual duvido que seja politicamente sustentável.

  2. J. Saro disse...

    João, uma questão sobre Poker/Educa, os vídeos que tinhas na escola deixaram de estar visíveis. Não vão ser repostos noutro sítio?

    Já agora, continuas no Cardrunners?



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