A baixa de salários e a actualidade política

Partilhar

O anúncio do PM e a baixa de salários


Este último anúncio do PM foi para mim uma desilusão, não pelo que foi anunciado mas pelo que não foi. Desde que este governo entrou em funções eu fui seu defensor, e continuo a ser da opinião que o país precisa de mudanças radicais e que seria preferível um ajuste duro mas rápido e eficaz em vez do conformismo e inacção que têm sido hábito dos governos sucessivos. Esperava ouvir sobre mudanças no estado e não apenas sobre mudanças nos impostos. 

Quanto às medidas em si, a que mais se destacou foi a transferência do custo com a SS, das empresas para os trabalhadores, no sector privado. Isto representa uma baixa generalizada de salários, a favor das empresas.
Muitas empresas precisam disto para se manterem solventes e competitivas. Não vai provocar uma corrida às contratações, mas vai evitar algumas falências e numa crise como esta é um objectivo mais realista abrandar o aumento do desemprego do que reduzi-lo.
Aquilo que as empresas não conseguem fazer por lei, baixar salários de quadros antigos, desadequados da realidade actual, o estado fez por elas. Por outro lado, as empresas eficazes e em que os postos de trabalho sejam eficientes e com crescimento podem perfeitamente converter esta poupança em aumentos salariais na mesma medida mantendo a relação anterior a esta lei.
Apesar da medida ter algum sentido, o ministro das finanças anuncia que estas poupanças das empresas serão controladas e têm que ser destinadas a contratações ou ao que o estado lá decidir. Borrou a pintura. As empresas gerem bem, o estado gere mal, logo devem ser as empresas a decidir no que investem aquilo que não lhes é cobrado em impostos. Isto é uma medida estilo soviético, com motivações difíceis de compreender. Até parece que o primeiro-ministro aconselhou Belmiro de Azevedo a baixar os preços, espero que tenha sido um lapso porque dar um conselho de gestão ao gestor de topo em Portugal, em vez de os pedir talvez, é para lá de ridículo.

Foram muitos os comentários a estes anúncios, saliento o de Marcelo Rebelo de Sousa que foi o que gostei mais e que mais do que criticar as medidas critica a falta de explicação, falta de rumo e ausência de medidas mais corajosas em sectores que não foram ainda tão tocados. Já Manuela Ferreira Leite critica a falta de bom senso, eu discordo; a governação geral deve basear-se em bons modelos e boa teoria económica, o “bom senso” pode apenas ser aplicado nos casos particulares e algumas minorias.
Quanto ao suposto ataque aos pensionistas, é consequência de um problema que não é de agora nem deste governo. A esperança de vida está a aumentar, e as receitas já estão no limite de esmagar os rendimentos dos trabalhadores no activo, logo as pessoas terão que receber menos durante mais anos, em média. Na minha opinião o objectivo das pensões do sistema público devia ser limitado a assegurar a sobrevivência e dignidade humana dos idosos e inválidos, as pensões deveriam ter um máximo de 2 ou 3 salários mínimos e os descontos também muito menores enquanto se está no activo. Seria uma mudança difícil porque não se pode cortar tanto as pensões a quem descontou um balúrdio, mas poder-se-ia caminhar nesse sentido, o que não aconteceu, o total de descontos aumentou em vez de diminuir.

Vítor Gaspar
Sem dúvida o ministro que mais gosto de ouvir e até com quem já mais aprendi. Parece-me ser a pessoa ideal para o cargo mais difícil do governo, e não sendo político de raiz não tem preocupação em agradar a ninguém nem medo de avançar com o que acredita ser o melhor. Foi a pessoa que surgiu a explicar a trapalhada do anúncio do PM e será a pessoa a ouvir com mais atenção na apresentação e discussão do OE de 2013.
Referências:
Anúncio da quinta avaliação da Troika: http://www.youtube.com/watch?v=HN-4b14XXcw
Entrevista sobre o mesmo tema: http://www.youtube.com/watch?v=ySaTt-scIhE
Dia da FEP (Maio 2012): http://www.youtube.com/watch?v=9wwakw1W5-M

A Troika e o défice
Nunca fez sentido determinar objectivos de défice, porque o défice só é calculado depois do fim do ano e entram para a equação várias medidas que não é possível determinar com rigor mas apenas estimar. Ao fim de 8 meses do ano é possível estimar com mais precisão do que aquando da elaboração do OE 2012, mas ainda assim, estimar.
Por isso falharam as metas de défice nos tratados europeus e por isso falharam agora. O défice é um indicador importante mas não é possível determinar um número que corresponda ao sucesso ou insucesso do ajustamento. Obviamente, a Troika cedeu, depois de ela própria ter falhado as estimativas, na minha opinião não significa que o programa falhou.

A economia e o crescimento
A economia, eventualmente, há-de voltar a crescer, o desemprego há-de diminuir e haverá dias melhores que estes. Sempre foi assim, e não é a primeira vez na história que há uma crise, nem uma onda de pessimismo generalizado. Mas são os privados e as empresas que vão liderar a recuperação. O estado tem a difícil missão de não estorvar.

0 comentários:



Copyright 2006| Blogger Templates by GeckoandFly modified and converted to Blogger by Blogcrowds.
No part of the content or the blog may be reproduced without prior written permission.