Acordo ortográfico

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Inspirado numa carta escrita por uma mãe preocupada e partilhada através do jornal Público (que não utiliza o AO) e que já partilhei no Facebook: http://www.facebook.com/joaovidebarbosa/posts/163087497146827
vou explicar a minha posição acerca do AO.

Custa-me legitimamente estar no papel de Velho do Restelo, uma vez que sou a favor do progresso e faço os possíveis por evitar a aversão à mudança inscrita na natureza humana. No entanto, depois de bastante deliberação, sou contra o AO e não o aplicarei.

A evolução linguística é algo que se dá em longuissimos períodos de tempo, e apesar de haver sentido em ocasionalmente normalizar algumas regras, esse processo está também sujeito a ser feito no ritmo adequado, por exemplo 1 ou 2 palavras ou 1 ou 2 regras a cada 30 anos. Mudar centenas de palavras, regras de hífen e regras de maiúsculas por decreto e indo contra as regras aprendidas e utilizadas por milhões de pessoas em Portugal não é a forma adequada de se fazer a evolução linguística, ainda menos quando o é feito por razões políticas e não linguísticas, como é o caso.

No AO, e analisando do ponto de vista de um falante de Português de Portugal, atropelam-se diversas regras de fonética, criam-se ambiguidades, vou dar alguns exemplos:

O que é o Egito ? (resposta no fim)

Há algumas palavras onde o significado e a fonética não se alteram:
óptimo / ótimo
objecto / objeto
directo / direto

Palavras onde as regras da fonética são atropeladas:
acção (lê-se 'áção') / ação (lê-se 'assão')
recepção (lê-se 'recéção') / receção (lê-se 'recessão')

Palavras onde se criam ambiguidades:
acto, de actuar, do teatro / ato os cordões dos sapatos
pára, de parar / para (pronome)
pêlo / pelo

Hífenes que dão sentido específico a conjunto de palavras:
Fim-de-semana, significa os dias Sábado e Domingo.
Fim de semana, serão os últimos 2 ou 3 dias da semana? ou as últimas horas? e para quem diz que o Domingo é o primeiro dia da semana?

Prefixos:
Gosto do parachoques e do coerdeiro , criam-se uma infinidade de novas palavras, até aqui inexistentes.

Maiúsculas que dão especificidade às palavras como:
Papa / papa
Professor / professor

Deixei certamente por referir muitos exemplos caricatos, e para além desses há muitos outros onde o sentido até nem se altera mas são muitas palavras e formas de as escrever que aprendemos de uma forma e não há razão para alterar.

As razões para haver o AO, não são muitas nem importantes. A principal que se alega é a escrita de acordos, contratos, leis entre Portugal (e PALOPs) e Brasil sem necessitar de as traduzir, mas uma coisa seria aceitar como correcto o português do Brasil, outra é obrigar-nos a usá-lo. Duzentos anos de independência e uma diversidade linguística que vem de ainda antes disso, fizeram com que Portugal e Brasil tenham línguas diferentes. O mesmo acontece com todas as línguas faladas em diversos países e territórios, como inglês, francês, espanhol. Por exemplo, a Espanha, tem dentro do seu território continental 5 línguas oficiais.

Agora a confusão actual é inadmissível, umas coisas escritas de uma maneira, outras de outra, ninguém sabe o que é correcto. Na escola escreve-se com AO, nos tribunais sem AO, não há consenso, não há lei, não se percebe nada. Queriam criar uma língua única, mas conseguiram criar uma duplicidade insuportável. Os linguistas, professores de Português, legisladores, etc, estão-se (ou estão se) a atirar ao tecto (ou teto).

Nota: Este blog é escrito em Português sem acordo ortográfico, salvo alguns termos e expressões em língua inglesa, entre os quais os que se integram na gíria do poker.

Resposta: O que é o Egito? É um país, também conhecido (sem AO) por Egipto.

4 comentários:

  1. Anónimo disse...

    Então por ti ainda se escrevia pharmácia ou fructo... Respeito a tua opinião, se bem que a mesma está cheia de imprecisões. Aconselho vivamente a ler o que muda realmente com o AO, talvez fiques com uma perspetiva diferente sobre este assunto. Para acabar deixo está informação: apenas 3% do total das palavras que usamos habitualmente são modificadas com o AO. Neste meu comentário, escrito segundo as novas regras ortográficas, quantas palavras estão escritas de maneira diferente do que tu escreveria? Pois é... :-)
    Boa sorte para domingo!

    José Perdigão

  2. João Barbosa disse...

    A língua evolui, mas é uma evolução feita de forma natura no tempo adequado que é muito muito longo. Falas de 3% de todas as palavras em Português como se fosse pouco!!! 3% é praticamente a diferença do Português de Camões para o nosso.

  3. Anónimo disse...

    Sim, é pouco, o exemplo que eu dei é paradigmático. Já tu continuas a mandar postas para o ar sem o mínimo conhecimento de causa: já leste os Lusíadas (Lvsiadas na ortografia de então) na sua versão original? As palavras alteradas são bem mais do que 3% - deixo-te um link para veres (e é só o Canto I): http://pt.wikisource.org/wiki/Os_Lvsiadas/I

    Por isso, estás a ser o velho do Restelo que não querias ser; acontece.... olha, o meu comentário foi escrito segundo o AO e desta vez nem uma palavra alterada tem! Deve ser coincidência...

    Cumprimentos,
    José Perdigão

  4. João Barbosa disse...

    Aceito a opinião diversa, mas os meus argumentos mantêm-se. Não quero ver as regras da fonética atropeladas, nem ambiguidades criadas onde não existiam. Não sou um especialista de línguas nem pretendo passar por um, mas sou falante de Português e por isso a minha opinião conta.
    E o resultado? Um só Português? Não, agora temos é dois onde só havia um.
    Não há aliás nenhuma razão positiva para a unificação; o Português do Brasil é diferente na fala e é natural que também o seja na escrita.



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